Minha Carta de Amor ao Tempo

#paralerouvindo: Preciso Do Teu Sorriso

Comecei a escrever uma carta para uma menina, comecei. Mas não coube. Transbordava no espaço físico, não tinha semântica dentro da língua portuguesa, não tinha tinta pra caneta, palavra com rima, sinônimo ou frase de efeito que fosse suficiente pra traduzir os cinquenta e três dias.

E tão por isso, minha carta de amor tem como remetente: o tempo, senhor de todas as coisas.

Copio nessa carta:

O espaço cronológico dos relógios de cinquenta e três dias em que alguma coisa mudou profunda e definitivamente dentro de mim. Nessa cronologia, que me parece maluca por ter marcado outro ritmo para chegar até a menina de novo, tive tempo suficiente para ir do céu ao inferno, viajar para dentro de mim pelo mil vezes ao dia e para fora de mim pelo menos umas dez (Los Angeles, Recife, Santa Cruz do Capibaribe, Belo Horizonte, Tiradentes, Ouro Preto, Rio de Janeiro, Paraty, São Paulo, Maceió). À geografia que copio também nessa carta vos falo, caro tempo, ela é plenamente contornável, não se assuste com os quilômetros, horas de voo, de carro, de nado que seja. Ela é contornável. E sobre o susto, copiado aqui também, aquele que tem sinônimo de medo, te ensino uma coisa, ele geralmente vem junto daquelas coisas que realmente importam, é preciso olhar com muito amor para as pessoas que cruzam nosso caminho, Tempo, isso tudo aqui é muito rápido. Elas podem ser uma chuva rápida, mas também podem ser um rio, e isso é uma benção enviada pelo céu. Não tenha medo. Meu coração, que te apresento e copio aqui, preciso que vocês andem de mãos dadas, Tempo, para marcar um passo de acalanto e compreensão frente a todas as situações, adianto por aqui que ele andou batendo forte, não cabendo dentro de mim, transbordando em choro, em riso, vibrando numa frequência até então desconhecida e tem dificuldade de entender tua natureza de calma. Precisamos de tua ajuda, tempo.

E por fim, e mais importante, coloco em cópia a menina, para que ela tenha um olhar distante ou perto, como ela desejar sobre todas essas coisas, que você, Tempo, tem tratado de nos trazer. Para que ela também sinta meu amor, que é grandioso, através da minha maneira de querer conversar com todas as coisas da natureza, como o tempo, o medo, a geografia, e de como eu tenho tocado de maneira tão sensível em tudo por estar à flor da pele diante de um amor tão genuíno e ao mesmo tempo visceral.

E tu, que és um senhor tão bonito, vou te fazer um pedido, por pareceres inventivo e contínuo, que abra as portas que para essa menina quando ela quiser voltar para esse amor que é tão raro e preciso. E que eu tenha o entendimento, a força e coragem, para fazer com que esse amor floresça porque nele, eu me vejo em todas as coisas. Ainda assim acredito, ser possível reunirmo-nos, eu você e a menina, quando o tempo for propício e o que usaremos para isso, fica guardado em sigilo.

Com todo meu amor, te abraço,

Bia.